sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Entrevista com Flávio Teixeira, roteirista da Turma da Mônica

Flávio inspirou a criação de um personagem, primo do Rolo.

Flávio Teixeira é um dos mais atuantes roteirista do estúdio Maurício de Sousa Produções.  Entre os seus trabalhos se  destacam várias adaptações de filmes e o casamento da Mônica na versão jovem. Os fãs se deliciam com sua verve para o humor, o trocadilho e as referências à cultura pop com as quais enche suas histórias. Nesta entrevista ele fala um pouco de sua carreira de seu processo de criação. 

O que você lia quando era criança?
Eu comecei a ler turma da Monica, que acho que todo mundo lê quando é criança, e algumas coisas estranhas para mim na época, como Fantasma, super-heróis, mas o que mais me cativou foi a Turma da Monica, o que me ajudou, pois depois, como ia trabalhar com esses personagens, foi isso que acabou me formando como roteirista.

Como você começou a escrever roteiros?
Quando era criança eu adorava a escrever histórias. Fazia histórias dos meus personagens, os professores me incentivavam e aos sete anos eu fiz uma historinha e mandei para a Folhinha, que tinha um espaço chamado futuro artista. Mal sabia eu que ia ser mesmo um futuro artista de quadrinhos. Quando cresci, fui trabalhar com desenho animado, como desenhista, eu nem sabia que existia roteirista. Na época do plano Collor eu fui demitido e sugeriram que eu procurasse o Maurício e lá um amigo disse que eu tinha muita criatividade e sugeriu que eu fizesse teste para roteirista. Eu comecei a fazer em folha de caderno. Aliás, o primeiro roteiro que fiz foi o Batmão, que é uma história do Batman com o Jotalhão em que ele vai assistir a um filme do Batman e pede para a Monica fazer uma roupa para ele. Foi o primeiro que eu fiz, mas o primeiro que publicado foi da Dona Morte, que é um personagem que adoro. Eu inclusive dei uma mudada na personagem. Os roteiristas tinham uma outra maneira de fazer ela, uma coisa mais durona. E era meio assexuada. Era dona morte, mas não era bem uma mulher e eu comecei uma Dona Morte mais gente boa, mais feminina. Fui mudando aos poucos, o Mauricio aceitou e eu achei muito legal. A primeira história que saiu trata de suicídio, que hoje seria impossível por causa do politicamente correto. Era um cara tentando se jogar de uma ponte com uma pedra, e a Dona Morte convencia ele a não fazer isso porque ele não estava na cota dela .

Qual o personagem que você mais gosta de escrever?
É a Dona Morte. Se você pegar as minhas histórias, vai ver que de alguma forma ela sempre aparece. Eu adoro porque ela foge do clichê. A dona morte só precisa pegar alguém e isso dá asas para a imaginação. Tem uma das histórias que eu mais gosto que ela vira criancinha, a Mortinha e ninguém respeita mais ela. Tem aquela que fiz do Papa, que também teve uma repercussão bem legal. Aliás, aquela história eu fiz na rodoviária.
Dona Morte, personagem predileta.

Qual o personagem mais difícil de escrever?
Então, o roteirista do estúdio MSP tem que saber escrever todos os personagens, mas o núcleo que eu tenho mais dificuldade é a Turma da Mata, porque tem aquele lado político, mas ao mesmo tempo não pode ser muito político. Como eu tendo mais para o humor, quando vou eu alopro, eu faço umas histórias que brincam bem com esse lado do rei, do reinado. Outro difícil é o Horácio, que é um personagem do Maurício. A gente tenta de vez em quando, mas é muito pessoal, difícil conseguir emplacar um roteiro. 

De todas as histórias que você fez, qual  você mais gosta?
É complicado. É como filho, difícil dizer qual a gente mais gosta, mas eu gosto muito dos clássicos do cinema. Eu gosto muito de Coelhada nas Estrelas, porque sou fã de Star Wars.

Mestre do trocadilho, Flávio adora fazer adaptações de filmes.

Foi você que criou os trocadilhos com os filmes, como “O império contra a vaca”?
Sim. O pessoal diz que sou o rei dos trocadilhos. Eu posso perder o amigo, mas não perco a piada. Teve o Astroboy, que virou Astroboi. Eu adoro fazer trocadilhos...

Esses trocadilhos já ficaram famosos. Lá em casa ninguém mais diz O Império Contra-ataca, é 
O Império Contra  a Vaca...
Rsrsrs verdade. E tem muita coisa. Por exemplo, Avatar, virou Avaturma, vem fácil.
Flávio foi o roteirista do casamento mais esperado dos quadrinhos.
 Como é o seu processo criativo?
Depende. Se o prazo é curto, você fica às vezes meio tenso. Se você me vê andando para lá e para cá é porque eu estou tenso, eu estou num processo criativo  e ainda não sei para onde eu vou. Às vezes eu tenho uma ideia e ela vai para três quatro lugares diferentes e eu tenho que me ater a uma só. Eu sou um cara que gosta de pesquisar muito sobre o assunto da história.  Se vou fazer a história de um filme, vou pesquisar sobre o filme, se vou fazer a história da pizza, vou pesquisar. Se na pesquisa vejo a referência a Nápoles, vou pesquisar o que é Napoles, é um link infinito. No mangá eu tenho um estilo próprio. Eu escrevo a história de forma corrida em 12 páginas de texto porque os mangás têm que ter 120 páginas. Então cada página de texto tem que me dar 10 páginas de quadrinhos. Na hora em que estou passando a limpo é que começo a pensar no layout porque layout de mangá é diferente e eu começo a pensar: aqui era para dar 10, deu 6, legal, vai dar para desenvolver um pouco mais outra sequencia...

Como você escreve?
Como se fosse uma peça de teatro. O cebolinha fala, a Monica fala, etc e a descrição das gags visuais. Na hora de passar a limpo, faço o layout e vem coisas novas.

Uma coisa interessante do Maurício é que, apesar do processo ser meio industrial, cada um tem um estilo e dá para perceber isso nas histórias. A minha filha, que é especialista em turma da Mônica, diz que o seu forte é o humor.
Isso. Cada um tem uma marca. A turma da Monica Jovem minha, por exemplo, é bem mais leve. É um humor de fazer gag o tempo todo. Cada roteirista tem o seu estilo e ele aprece nas histórias. Por exemplo, se você lê uma história do Mingau, você sabe que é do Paulo Back porque ele tem, tipo, 10 gatos em casa e sabe tudo de gatos. As histórias do Emerson têm um estilo que você diz: só o Emerson para fazer isso. Ele faz umas coisas bem doidas que só poderiam sair da cabeça dele.

O que você gosta de ler, de quadrinhos?
Eu leio de tudo.  Leio super-herói, comecei a ler muita coisa de quadrinho europeu graças ao Sidney Gusman, que começou a me trazer muita coisa legal.

Eu já percebi nos seus quadrinhos uma pegada meio Asterix, com muita gag visual.
O Asterix me influenciou muito. Eu adoro os trocadilhos do Goscinny. Eu li e fiquei pirado. Calvin também. Foram verdadeiras escolas de roteiro. Aliás, quando comecei, o Maurício falava: tá muito Calvin isso aqui, dá uma maneirada...rsrsrs

Que dica você daria par os novos roteiristas?
Você tem que ser muito apaixonado por roteiro e você tem que ler de tudo, não pode ter preconceito: quadrinho europeu, quadrinho americano, mangá. Você não pode ficar viciado em uma coisa só. E você tem que se dedicar à pesquisa. A pesquisa vai transformar muito seu roteiro.

2 comentários:

Diego J. disse...

Mito bom!

Fulana disse...

Gostei muito, um dia quero mandar uma sugestão de história para os roteiristas da turma da mônica jovem. Quem sabe um dia essa história apareça na revista!?

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